9 de jun. de 2010

Do peito côncavo e migalhas que devoraria

E eu gritava por não saber mais esperar. Tantas palavras, gestos, olhares e gozos trocados para ter o silêncio em retribuição. Buscava frases feitas para expressar a ausência. Clarice me explicava: retrato de um côncavo. Abria meu peito côncavo, mas as muralhas rapidamente se fechavam e ele seguia com seu vazio. Chineses me entenderiam. Muralhas instransponíveis cercavam de todo a região que um dia palpitou. Tentava plantar algumas sementes, mas flores jamais crescem em poços. A água já havia secado e a luz do sol já não alcançaria a terra ao fundo. O copo esvaziava, o maço de cigarros chegava ao fim, eu seguia no meu dilema e não saberia suportar. Ouvia promessas que não seriam cumpridas. Não daria mais atenção. Mentia pra mim mesmo. Lia as frases já esquecidas, abria os velhos livros e encontrava pétalas sem cores. Me sentia tonto e com náuseas: vomitaria todas as frases que haviam guardadas em uma carta que jamais enviaria. Me faltaria coragem para encarar a realidade. Elaboraria um diálogo se as palavras não me cortassem como cacos de vidro ao serem proferidas. Procurava o fundo do teu olhar, encontrava o auge da minha dor. Escrevia para esquecer, mas o fazria inutilmente.

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