25 de set. de 2011

A doença da morte

Sou doente bem sei. Sei bem e tão bem que reconheço minha própria doença. Algo se instala tão profundamente nas entranhas que uma mera cirurgia pouco adiantaria para recomposição da minha integridade. Seria necessário arrancar todos os orgãos um a um e limpá-los escrutinosamente com esmero não objetivando nunca arrancar todo o mal, mas, pelo menos, fazê-lo não letal. O mal assombra de forma invisível. Exames, radiográficas, toques, raios x, ultrasonografias, estetoscopias, aferimento de pressão nada adiantariam para constatar minha moléstia. O mal me ataca no âmago, no ser, no fundo do self, no ponto que os cristãos chamam de alma, os moralistas de consciência e os românticos de coração. A doença que me ataca é uma simbiose lenta do meu corpo: ataca os orgãos lentamente, alimentando-se de uma pequena parte todos os dias. Cada novo dia vejo o crescimento de minha doença em meu decréscimo. É degenerativa e não há tratamento possível. Pouco a pouco torno-me o mal que me cativa.