29 de jan. de 2010

através da fronteira

olhava timidamente por cima do muro.
ví que usava uma faixa vermelha no cabelo.
achei bonita.

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conversava na praia sobre rock and roll, filmes e literaturas.
cabelos curtos, vestido branco e uma blusa verde.
o sorriso mais bonito que já ví.
ela dizia que era grande demais.
disse que era melhor do que não ter.
ando cansado da seriedade.

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"es mi vecino" ela me disse.
não entendi. ela repetia.
"tu casa es do lado de mi casa"
lembrei que sempre espiava.
não pude mais sair da frente da casa.
esperava por horas pelo sorriso bonito.
ela usava verde.

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com piadinhas distraía.
nunca fui engraçado. engoli a timidez.
inventava desculpas para mudar de lugar. ela fingia que não notava.
de chimichuris a ensaladas, me ensinava novas receitas.
eu mostrava samba e falava sobre literatura argentina.
cortázar não soava estranho, do borges ela gostava.
ela dizia que ciencias sociales es lindo, eu invejava seu curso de gastronomia.

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usava um vestido branco.
era meu último dia. não queria sair dali.
troca de contatos e todo o blablabla.
caminhamos na praia e subimos nas pedras.
o sol descia. torcíamos para que ficasse escuro.
não muito.
eu te tocava devagar. tu tinha pressa.
não sabia como agir. estranhamento e diferenças culturais.
gostava quando puxava o cabelo.
os olhos puxados não se abriam mais.
"sera que ellos nos escucharan de todo?"
perguntava sobre os que passavam.

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fingia não ligar.
seria por 3 dias. nada mais que isso.
descobri que ainda era mole. era inevitável.
mentia para os outros que não.
para mim mesmo era difícil de enganar.
senti ciúmes. zelo, em espanhol.
depois de bebidas conversas iam e eu estava sentado com meu cigarro.
ela gostava de bailar. eu não sabia.
"voy volver a mi casa. me gusta ter te conocido."
mais um dia se vai.

à beira do mar aberto

eu te dizia que os gregos chamavam de aurora do dedo róseos. não lembro se inventei ou lí em algum lugar. eu sempre arranjava uma desculpa para não estar ali. andava desatento e apático. na fuga para o cigarro tu dizia pra ficarmos mais um pouco e eu inventava uma desculpa para voltar logo. tu sorria tanto e eu fingia que não via. fui te contaminando. no fim das contas tu passou a andar de cabeça baixa ao fundo. olhava para a sombra que não se movia. jogávamos areia para ver o vento espalhar. faltou um canto, um quarto a dois. não me importei. estava deixando tudo para depois. dormiamos com a tv ligada. tu correu para o mar com teu biquini verde e eu não pude não notar, mas tu voltava a meu colo e eu já não me importava mais. tu me dizia tanta coisa e eu fingia escutar. não ignorava as consequências óbvias, mas não me importava. tu me dizia que nada era óbvio. olhamos os livros na estrada. um costume típico para um final (in)esperado. as dunas, a casinha vermelha, milhares de fotos, os abraços deixados para trás, as fones de ouvido divididos me fazem lembrar do que deixei partir. o cenário me causa dor. "tenho pressa, embora não pareça."

28 de jan. de 2010

"Eu quero mais, passei de fase.
Pra mim esse ano acabou e daí?
Se tu acha que vou desistir de viver de mim, foi mal aí.
Não importa se eu ganhe ou empate.
Se tu quer mais água no mate.
Pra onde eu vou, fugir dos complôs é grátis.

Pra ser sincero, quero ver o mais belo empate."



não saberia dizer de que estou atrás. fase de descobertas. ví que ainda resta um pouco de carne onde pensava ser só pedra. me descobri doce e não amargo com me disseram que havia me transformado. aprendi frases em espanhol. não larguei os cigarros. minha tosse diminuiu e minha asma se foi. melhoras de um período anterior baseado na ansiedade. perdi uma camada de pele e junto com ela uma parte do todo branquelo. minhas flores tatuadas floresceram de novo. flores do campo. a areia insiste em ficar presa entre meus dedos. a chuva me molhou e levou todo o lodo que me encobria. achava que sonhava, mas não conseguia dormir. vou fumar mais um cigarro à beira mar.

21 de jan. de 2010

em brusque

não sabia se o fato de olhar mais as vitrines femininas significava que ele ainda pensava nela ou algum traço de homossexualidade reservada. ele sabia o que ela gostava. ela dizia que ele não gostava, mas era pura implicância. ele se deu conta que estava cada vez mais longe. ela não fazia nada pra evitar. armadilhas do destino. bonita sua camiseta listrada de verdes por uma pechincha.

19 de jan. de 2010

de lembranças, não comentara. é algo que não precisa ser falado. do que ficava, ela fazia questão de apagar rapidamente, não sei se era bom ou ruim. não conseguia não remeter algumas leituras, palavras, conversas, as manchas na cama e as que pensava em fazer. engraçado que o amor póstumo não é ódio e muito menos apatia, mas sim marcas. mas nem todas são cicatrizes.

15 de jan. de 2010

uma vez escrevi um texto com todas as características que eu buscava em "um alguém" pra estar do meu lado. deixo tudo isso de lado agora. apenas procuro empatia.

da não busca de um balão

não gosto de balões.
balões logo murcham
e perdem a graça.
não são como flores
que se guardam dentro de um livro
e mancham as páginas
de um colorê bonito.

14 de jan. de 2010

epifania

quando criança jogava no filperama.
taito não engole fichas.
dois tapinhas na máquina e bastavam.
me batem na testa,
devo parar de engolí-las?

12 de jan. de 2010

sobre um orgão (não)regenerativo

já pensei que fosse de pedra.
já foi enfarofado.
colocarei o punho no lugar. lições de biologia.
sempre quis tocar bateria, as batidas me atraiam.
acho que não mais baterá, pois ficou perdido por ai.
em um lixo qualquer, pela capital do estado, eu ainda tropeço.
torço pra que ainda caiba.
mas vai saber.
me disseram que é assim.
se dá pra colocar um novo no lugar, mas que as vezes se joga esse fora e o antigo aparece de novo cheio de cicatrizes.
não acreditei.

11 de jan. de 2010

dos afastamentos e o suor frio

quanto menos percebia, mais se afastava.
ele não sabia o que fazer, desistiu de correr, de fugir.
parou pra juntar as moedas que derrubara no chão.
encontrou um bilhete que lhe contava muitas coisas que queria saber, mas ele não sabia se conseguiria acreditar de novo.
se viu perdido no escuro.
um dia ele já soube o que queria, logo passou.
a minha tosse continua e eu sinto frio nesses dias.
queria acender um incenso, mas "lhe dava alergia" pensou ele.
trocou os lençois e desligou o ventilador.
não dormiria como antes.