24 de mar. de 2011

Poema para ti

Do arcabouço teórico
retirava um conhecimento simplório.
Buscava verdades universais,
currículo e nome em anais.

De um pêndulo oscilante
analisava o movimento nauseante.
Deparava-se com questionamentos infinitos
e do seu interior silenciava os gritos.

Da vida, do trabalho e do dinheiro
matutava até encher o cinzeiro.
Chegava a respostas vazias
que pouco importavam às suas revirias.

Dos gostos, desgostos, mal-gostos
cansava de mirar seus rostos.
Questionamentos vãos inúteis
reprimiam seus desejos fúteis.

Da busca e do cansaço eterno
encontrou motivo para ser terno.
Deixou de lado os seu não
e passou a escutar o bater do coração.

Do seu lado encontrara
respostas as questões que sempre colocara.
Abandonou seu conhecimento vão,
chutou o ego e segurou sua mão.

De não mais tentar teorizar e explicar
pode o seu  lugar encontrar.
Os seus medos abandonou
e a ternura, dele, se apossou.

De querer roubar o seu coração
escreveu uma estrofe sem rimas.
Deu de ombros pois desde o primeiro verso
Só tentava anuncia a finalidade do poema:

Dedicá-lo a ti.

20 de mar. de 2011

Provisões Invernais

O sol ardia na espinha e o tecido colava junto ao corpo. Pouco importava. Permanecia estático. Não por preguiça ou algo semelhante, mas por um conforto que não queria me separar. Tu repousava ao meu lado e parecia que pra ti nada se passava. Imagens e sons eram emitidos pela tevê para ninguém. Tu assistia o espetáculo da preguiça e eu estava absorto com o meu de te ter em meus braços.
Os dias seguiam felizes. Não de uma felicidade plástica ou monótona, mas de um encontro tardio do que outrora se buscava com afinco mas que não se alcançava. As feridas eram lavadas uma a uma e cicatrizavam mais rapidamente do que o esperado. Cicatrizes estas que pareciam de memórias distantes como de infância. Talvez remetessem a esta e agora estaríamos amadurecendo. Um amadurecimento construído a dois como deve ser.
Os sentimentos se tornavam claros e o opaco de outrora, agora permitia que a luz se adentrasse. Os sorrisos se tornam bobos e os planos alegres. O que já era evidente, deixou de ser evitado, para ser consolidado.

9 de mar. de 2011

Lições para suportar o verão que parece outono.

Agora que o carnaval passou, deixe de lado os sapatos altos e desconfortáveis que parecem elegantes e calce algo macio e leve, pois agora será necessário sambar de verdade.
A aparência? Não, não. O carnaval passou, apenas vista sua máscara. As pessoas que te cercam devem estar tão atônitas que poucos notaram.
Para atravessar o verão que parece outono é preciso de uma boa dose de paciência e percepção. Percepção para reconhecer a máscara que vestem e paciência para se decepcionar com a máscara dos outros e com a sua própria.
Antitérmicos são mais do que necessários, pois sempre esquecemos que ainda é verão - por mais que vivíamos reclamando de não suportar o calor do verão - ainda desejamos isto. O cinza se adentra e temos medo de sua chegada, apesar de ela ser reveladora e fazer bem para quem está sozinho.
Para dormir no verão que parece outono, deve se deixar uma pequena fresta aberta pela janela e não usar despertador e ir despertando lentamente com o adentrar da pouca luz pelas frestas da fenestra. Obviamente não se dorm muito no verão que parece outono. Primeiramente porque o corpo não está aguentando as mudanças e a cabeça quer girar sempre que se deita, apesar de sua inércia no restante do dia. Também porque a gripe parece que veio com as serpentinas de carnaval e se prenderam nos braços, pernas e demais partes que seguem doendo. O refluxo de algo que se sentiu na primavera e que o verão consumiu, passam a voltar com tudo e o medo é que siga até agosto e não adiante mais lição para suportar.
Para suportar o verão que parece outono é necessário uma dose de vinte calmantes tomadas em uma banheira com um aquecedor ligado nas proximidades, uma corda no pescoço e uma gilete para se fazer sujeira.

Para esquecer

O maior sacrilégio estava consolidado e era seguido de noites mal dormidas e dores pelo corpo. O desânimo se espalhava pelo âmago e carregava uma certeza de que nada iria melhorar. Refletia sobre seus atos e sentimentos doados e não carregava nenhum peso na consciência, apenas decepção. Matutava sobre o amor que lhe era mediocremente entregado e sentia-se apunhalado por este ser inexistente. Não fizera promessas por temê-las, mas se mostrava disposto a sentir o que antes era impossível. Via-se espelhado na pessoa que outrora nada se parecia a cada dia que passava, entretanto viu seu maior defeito também refletido. Certa vez lhe disseram: "tu não sabe valorizar quem tem por ti apreço". E ela faria o mesmo. Não entendia qual eram os problemas que rondavam ou coisas do tipo. Sentia-se ainda pior pela desculpa esfarrapada no lugar de uma verdade doída que era a sua nova vida e que ele não poderia compartilhar. Não escrevia para esquecer, apesar de dizer isso. Escrevia para sentir mais intensamente. Imaginando que talvez o sentimento tenha isso de se for mais forte ser menos duradouro já que foi desta forma que se sucedeu a eles. Ao se entregar de todo, seu amor deixara de ser válido em troca de incertezas e novidades. Via-se no espelho.