12 de jan. de 2014

Sobre o tempo

E, além disso, quero que tu me prometas uma coisa desde já. Já? É importante. O que é? O tempo vai passar. Ele sempre passa. Calma. Desculpe. O tempo vai passar e tem tanta vida que vai junto. O amor perde o sentido original e ganha outros. O lençol fica puído, o sexo torna-se hiato. O corpo não é o mesmo e o desejo se transforma em cotidiano. Não te entendo. Não quero que sejamos daqueles que ficam velhos e chamam um ao outro de pai e mãe, depois de vô ou vó. Meus avós chamam um ao outro de negro e negra, acho bonito. Também não quero ser chamado de paixão ou de amor. Mas é tão terno. Mas esse amor que repete todos os dias acabar por se tornar um ô, você. Mas crianças precisam que refira-se ao outro como pai e mãe para que eles chamem também. Prefiro que meus filhos me chamem pelo nome a correr o risco de que tu me trates de forma automática. Quando disser meu nome depois de 50 anos juntos ainda vou saber que me ama. Quando morrer não quero que tu diga meu marido ou ex-marido ou o vô, ou o pai: quero ainda ser o que serei pra ti a partir de agora. E como posso te chamar? Como bem queiras. E qual é teu nome? Promete?