2 de jan. de 2015

Um sonho

Leia imaginando uma ambientação como um filme de Cronemberg, no qual as cores não são saturadas, os cortes são longos e os diálogos com um quê de nonsense, mas ainda sarcásticos e realistas.
Era um prédio antigo, central, muito alto e cheio de corredores com pouca luz, paredes verdes escuras e coberto de portas velhas de madeira fechadas. O cheiro de mofo era presente no ar rarefeito. Ao fim de uma andança que parece infinita, chegamos, eu e meu companheiro – um rapaz claramente mais jovem e inseguro; alto, magro e ossudo, como se tivesse crescido muito em um pequeno período de tempo – a um mezanino com as paredes cobertas de janelas de vidro transparente que parece ser uma galeria. Há apenas uma pessoa nesse espaço que é uma galeria de arte com quadros surrealistas pelas paredes.
Estamos na casa de meu amigo. Uma casa grande, mas sem muitos luxos. A casa me lembra a de um amigo de infância que não vejo há muito tempo. Na sala, com paredes de tijolo à vista, há uma parte elevada em uma das extremidades coberta de prateleiras até a metade das paredes com livros.
Vamos até o seu quarto que fica depois da cozinha e da área de serviço, como se fosse um anexo a casa. Ele destranca a porta e me mostra seu quarto. Não lembro bem o motivo de irmos até lá.
Meu amigo sai de casa para realizar algum afazer e fico lá. Nisso conheço sua mãe, uma mulher loira de óculos de aros grosso e cabelo crespo loiro armado. Ela tem um ar de scholar. Também sou apresentado a sua namorada, uma menina alta, com cabelos pretos e lisos muito compridos, também usa óculos de mesmo estilo e tem uma postura um pouco encurvada. Ela é muito discreta no seu vestir e nos movimentos e fala pouco.
Saio para uma área externa que serve como garagem. Há um carro utilitário antigo. Vejo uma cobra se movimentar pelo chão que é abatida rapidamente por uma pedrada. Não vejo o autor do disparo. Sou espiado por um menino pré-adolescente que aparenta esnobismo pela janela.
Estou no quarto de meu amigo com sua namorada. Na TV, localizada na parede, passam reprises no mudo. Tenho a impressão de que já conheço ela de tempos longínquos, entretanto ela não é ela. Com poucos gestos, sou instruído a me aproximar dela. Nos deitamos. Noto que a porta está entreaberta e levanto-me para fechá-la. Observo que há uma chave pelo lado de fora, entretanto não é uma chave de portas internas, mas uma chave como as de casa. Nisso percebo que meu amigo mantém o quarto chaveado em sua ausência. Pergunto se devo trancar e ela responde afirmativamente, reflito sobre as aparências de estar com ela em um quarto trancado, mas imagino que o flagra é pior. Ela parece não fazer caso disso, como também parece não fazer caso de nada, como se vivesse um mundo que não fosse esse.
Ela vira de costas para que eu a penetre. Logo após alguns movimentos, acho que vou gozar. Tento distrair-me. Ela não faz ruído algum, permanece de olhos fechados como se fizesse qualquer tarefa cotidiana, embora sua expressão se transforme ao fim de cada movimento vagaroso que eu realizava. Depois de aproximadamente dois minutos, sinto o gozo percorrer meu pênis. A sensação de expulsão de muita porra armazenada me amolece e intimida pela rapidez do ato.
Sinto-me um pouco confuso com as aparências, pergunto se devo sair, vestindo as calças, e ela me fita com indiferença, mas com um bocado de afirmação. Destranco a porta e vou ao banheiro que é o cômodo contíguo. Ao tentar empurrar a porta, noto um obstáculo: por detrás da porta há um cachorro muito grande que parece uma mistura de labrador e dálmata impedindo a abertura total. Como a maioria desses cachorros de porte gigante, ele parece muito bobo e o empurro. Ele parece não ligar. Enquanto estou urinando, vejo que um cachorro muito pequeno que me olha e late.
Sento-me no chão da parte elevada da sala por instrução da mãe de meu amigo. Ela fala calmamente e de forma simpática. Pergunta se sou colega de seu filho e a menina que acabara de ter o coito responde que vou estudar gastronomia. Ela parece se alegrar e diz que quer que seu filho faça o mesmo, já que ele pode viajar sempre que quiser e isso ser benéfico para realização de tal curso. Digo que estou acabando o mestrado em antropologia, mas que não gosto muito. Ela pergunta em que curso havia me formado e respondo que em Ciências Sociais. Ela me fita com um sorriso que parece denunciar uma inocência por minha parte. Só nisso dou-me conta do ambiente intelectualizado que estou situado.
Meu amigo chega e é recebido por sua mãe dizendo que ele deveria estudar gastronomia. A afirmação é respondida por um olhar inquisidor típico de filhos para as mães. Anuncia que devemos  ir a algum lugar que previamente já havia sido definido. Sua mãe, que também estava sentada ao chão comigo, levanta-se como fosse também. Ela me aponta a saída para a garagem. Quando estou de saída, noto o olhar repressor do menino mais moço na extremidade contrária da sala. Vou a frente em direção ao carro e ao me aproximar vejo uma espécie de pintura rupestre de um galho com uma cobra enrolada. A mãe de meu amigo sai correndo em direção a porta da garagem, como se também tivesse visto minha epifania. Só agora noto seu poder de clarividência.
Nisso sou acordado com um grito e com a impressão de que estou molhado.