4 de abr. de 2014

Branco e blue

Há muito tempo atrás, eu tive uma menina. Naquela época ainda achava que a gente deveria ter as pessoas que amava. No final dos anos de rebelde, como se hoje já tivesse deixado a adolescência pra trás. Sempre fui muito burro e só podia sentir algo por quem não me tinha apreço. De tanta insistência ela passou a me gostar, foi o começo do fim. Foram tempos de deitar na grama, muito vinhos baratos e discos repetidos do Belchior até eu conseguir, pouco a pouco, afastá-la. Perto do fim, roubamos uma planta juntos. Duas crianças não podiam compartilhar uma casa, compartilhavam uma planta. Ela me deixou, eu fiquei com a planta e, coincidentemente, dei-me conta que o amor que guardava tinha se esvaecido no mesmo dia em que a planta já não ficaria mais erguida.
Seguindo no mesmo erro, já alertado por minha mãe, amei essa outra menina. Ela era geniosa e muito delicada. Criou-se uma relação de posse lentamente, embora já não fosse mais necessário e, tampouco, pretendido. Eu já havia sofrido um bocado e sabia o quão difícil era estar do lado de alguém. Foram tempos de poesia e canções ao violão; filmes repetidos e noite sem dormir. Fui embora, deixei meu coração. Ela, tardiamente, apareceu por aqui e meu quarto se encheu de pássaros azuis. Pouco a pouco eles foram caindo da parede com a partida. Ainda restam dois.
Nunca acreditei em destino. Hoje torço todos os dias que acordo para que os dois desabem e eu siga adiante.