13 de out. de 2010

Apalpava os móveis e as paredes que os ligavam lentamente buscando encontrar o caminho que levava a claridade. A luz havia cessado há alguns segundos pelos tiques do ponteiro dos segundos do relógio, mas haviam decorrido milhares de anos para ela. Ela o chamava e ele, como se suspirasse, pedia que ela se acalmasse. As suas pernas tremiam e ela via a sua falta de algo na escuridão que a cercava. Pelas frestas da janela notava que o restante da vizinhança também seguia sem luz. Ele seguia lhe dirigindo a voz para que se acalmasse e ela notava pelos sons que ele procurava algo. Lembrou de sua infância que sua mãe guardava velas na quarta gaveta da cozinha. Talheres na primeira, como em todas as casas que conhecia, coisas inúteis na segunda gaveta, panos de prato na próxima e velas no fundo da gaveta bem embaixo. Não conseguiu lembrar quando começara a temer a escuridão. Pior que o escuro eram as luzes que entravam pelas frestas das janelas e formavam formas que ela imaginava rostos e imagens carregadas de peso. Temeu sua escuridão interior que permitia a entrada de poucas frestas de luz. Não sabia o porquê de nunca ter aberto um espaço para a claridade entrar como se fosse um dia ensolarado em que a luz invade as janelas e esquenta todo o amibente e nem o motivo de ter deixado frestas no lugar da escuridão total que tentou manipular e impor a si mesma. Lembrara das faltas de luz mais freqüentes durante sua infância e se sentia tonta diante da lembrança de sensações e da busca de colos que, muitas vezes, demorava a encontrar.

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