25 de abr. de 2011

Girassol, a flor que não resiste ao próprio esplendor

houve uma pequena semente que se chamava girassol. como era tradição em sua família, girassol, quando pequena, era servida a pássaros como refeição. girassol foi oferecida para o costumeiro sacrifício juntamente com um punhado de sementes irmãs, entretanto fora deixada de lado, talvez por sua pequinês, talvez por suas imperfeições enquanto semente. compadecida, uma menina, recolheu girassol da gaiola em que vivia e plantou-a em um pequeno vaso. com cuidados e água, a menina zelou por girassol para que ela se tornasse uma flor, mas girassol, por temer a rejeição, permanecia inerte em seu estado de semente. duas primaveras se passaram e a então moça era implacável nos cuidados apesar da falta de sucesso. em uma dada primavera girassol resolveu desabrochar, apesar de pensar que suas flores logo murchariam e ela não resistiria ao fardo que é ser uma flor. girassol foi tímida em crescer, entretanto a primavera era muito ensolarada e logo girassol encantou-se pelo sol e quis lhe roubar a cor. girassol passou a crescer rapidamente e encantava todos os pedestres que transitavam rentes a sua janela. por sentir-se valorizada, girassol passou a ter pétalas que brilhavam e seguiam os movimentos do sol, seu amante. certo dia, girassol já estava muito maior que o vaso que a abrigava e segura de si decidiu que cresceria a ponto de encontrar o sol. poucos dias se passaram e girassol irradiava um amarelo ímpar quase semelhante ao do sol. exibia também grandes pétalas em quantidade, tamanho e beleza. os pássaros da vizinhança se apaixonaram por girassol e todos os dias tentavam roubar-lhe beijos, mas ela se mantinha fiel ao seu primeiro amante e o seguia ao longo do dia. em certa noite, girassol decidiu, então, que se permitiria um beijo de um pássaro no dia seguinte se ele prometesse que levaria parte dela para dar ao sol e traria a cor de seu amante para si própria. desperta girassol no dia que encontraria seu amante. o brilho de suas pétalas se dava como nunca havia sido visto anteriormente. suas pétalas exalavam perfume e beleza dignos só dela própria. não tardou para que avistasse um pássaro se aproximar de longe para acariciá-la. segura de si, chama o canário para perto, mas sente que seu peito apertar-se e desmorona no chão por ter seu caule rompido. o sol se fecha coberto por nuvens para que girassol não notasse seu pranto. o primeiro transeunte, que outrora diminuía o passo para observar a beleza da flor, não a nota caída e amassa suas pétalas com a sola do sapato. eis que girassol, a flor que temia desabrochar para ser esquecida, fez do sol seu amante e o seu calor a fez brilhar como nunca visto em nenhuma outra flor, entretanto seu caule que não resistiu a todo seu esplendor rompeu e sufocou-se a si mesma por brilhar demais.

4 comentários:

  1. o mais bonito é que nem o girassol sabia que podia brilhar tanto. lindo texto, beibe.

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  2. no final do texto um suspiro cai como uma luva e uma reflexão fica plantada na cabeça a espera de frutos e sementes
    que seriam a tal da inspiração
    no seu caso
    que deveria
    por sua vez
    ser
    uni
    ver
    sal

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  3. falando em concretismo, que o blogger, maldito, não deve conhecer.. eu aproveito pra fazer uma pergunta: tu conhece Ferreira Gullar?
    agora ele é conhecido como um poeta político, mas, um pouco antes, era conhecido por fundar (ou ser um dos fundadores) do neoconcretismo

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