9 de ago. de 2010

De cambalhotas que não esperava virar

Novamente se deparou consigo mesmo vendo o mundo de cabeça para baixo. Fumava compulsivamente e sorria amarelo como quem tenta disfarçar sua dor com bom humor. Não agia naturalmente e media todas as palavras a serem ditas. Encontrava velhos medos que havia escondido em lugares quase inacessíveis.

Aventurava-se em sua tentativa de ter a atenção para si e quando esta era dada não sabia o que fazer. Queria tocar sua mão suada e ver seus grandes olhos escuros e redondos fechados. Queria sentir seu corpo branco e distante para ela, queria a ver entregue em seu colo e apego, mas sabia ser impossível. Lembrava da canção que dizia “me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração” e sentia lâminas cortando partes que tentava impedir de serem expostas. Ele a olhava agindo de forma tão natural e espontânea que se encantava ainda mais pela sua facilidade de ser terna sem usar palavras. Não a fitava nos olhos, pois sentia pavor de sua olhada grande e profunda que para ela parecia tão fácil de dirigir quando convinha.

Dava tiros tentando impressionar e se mostrava disposto a todas as atrações. Ria dos brinquedos medíocres disfarçando a sua própria insegurança e ansiedade. Trocavam frases curtas e ele não sabia como agir quando ela sentava do seu lado em meio a grades e cintos de segurança. Admirava quando ela olhava nos seus olhos tão profundamente e dizia qualquer frase banal. Deparava-se observando ela girar em meio a luzes, músicas desagradáveis, pessoas desconhecidas e nos seus pensamentos e desejos. Imaginava trocas de olhares e ansiava por sentir seu cheiro e seu calor.

Via o mundo ao contrário pela janela do Kamikaze. Sentia a sensação de ter os órgãos internos espalhados pelo corpo em lugares que não eram devidos. Em meio a tonturas, enjôos, adrenalinas, cocas-colas e brinquedos repetidos, sentiu pequenos pulsares no fundo de seu peito como há algum tempo deixara de sentir. O parque de diversões reanimava seu coração perdido.

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