7 de abr. de 2010

trapaças, habilidades e sortes que não fariam diferença

"Provavelmente o amor é um jogo; nos jogos é preciso respeitar as regras. Em todo o caso, é alguma coisa muito delicada: não o manuseie, como eu o tenho manuseado, porque o estraagará irremediavelmente."
Adolfo Bioy Casares

Pensava que sua trinca de damas seriam suficientes. Percebia o blefe com pequenos sinais: o olho esquerdo tremia vagarosamente enquanto a mão oposta suava. O amor não poderia ser poker, já que os blefes nunca são percebidos. As cartas na manga, no amor, eram inúteis.

Fazia apostas nos pares, impares, vermelhos e negros. A roleta girava e o 0 dava o prêmio pra banca. O amor não seria a roleta, já que nesta quanto mais números apostamos, maiores as chances de êxito, mas com prêmios menores. No amor só se podem colocar todas as fichas em apenas um número esperando a sorte grande. Ao tentar apostar metade das fichas ou em vários números a banca sempre vence.

A primeira carta era um três, depois veio um nove. Doze. Seguiu apostando. Seguido por um sete. Dezenove não seria uma pontuação ruim, mas poderia esperar o dois. Exitou. Blackjack não é o jogo do amor. No amor apostamos tudo sempre, independente de estar quase no vinteeum.

Tinha uma vantagem de três bolas. Uma nova tacada e a bola oito, à beira da caçapa, cairia. Com cálculos de distâncias, força, velocidade do vento, um passar de giz na ponta do taco; foi dada a tacada final e a bola oito seguia imóvel. O desfecho do jogo nunca se soube. O bilhar jamais se assemelharia ao amor. Anos de treinamento na arte de amar e o jovem senhor me disse em certa feita que não sabia nada sobre essa arte. Nunca conheci um amante habilidoso, diferentemente dos jogadores de bilhar.

Depois de tirar dezessete vezes o mesmo número, desistiu de girar os dados. Nunca souberam me dizer se o dado era viciado ou se aquele era seu dia de sorte. O amor não é um jogo de dados. Nunca conheci amor viciado e nunca pude contar com a sorte no tal jogo que chamam de amor.

Nos últimos dezessete anos apostou em apenas dois cavalos, dois pampas muito semelhantes. Depois de catorze anos de corridas a sua primeira opção de apostas morre e ele não hesita em seguir no seu herdeiro. A mulher pede que deixe os cavalos de lado. Perdeu a formatura de seu filho porque as chances do seu pampa ganharem eram grandes. Nunca ganhou um tostão, mas contava as horas pela próxima largada. Considerando lucros e dividendos o amor não existe. Na hora da escolha, o olho nunca se engana, não analisa o passado, não pensa na resistência e no porte físico, mas aposta todas as forças no cavalo de sempre. Nunca ouvi caso de enriquecimento em corridas de cavalos. Nunca ouvi história de existir um ex-apostador de corridas de cavalos. Penso que o coração se assemelha ao jockey club. As apostas são incondicionais e irracionais. Não existem ex-amantes. Pode passar a pessoa amada, mas depositamos toda a confiança no próximonovoamor. Anos de desilusões e o coração palpita novamente quando surge um novo "cavalo" na pista cinco.

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