27 de nov. de 2009

sobre cartas e aulas de estatistica

Ele olhava curiosamente como ela reescrevia todas aquelas folhas, tantas linhas, tantas palavras. Será que diriam algo pra alguém? Ele sabia que ela gostava de cartas. Gostava de receber e escrever cartas. Todos os dias ela olhava a caixa do correio pra ver se novas chegavam. Ele só achava engraçado. Ele não gosta muito de cartas. Sabe como é, mania do eletrônico, mania de olhar nos olhos, por mais que ele não consiga fitar por muito tempo. Aquela aula passava, ele tentava se concentrar, mas tentava ainda mais imaginar tudo que havia escrito. Claro que o narcisismo costumeiro estava presente. Ele gosta de ser visto. Era bonita a forma como ela escrevia, ele gosta daquela cara de concentração, ainda prefere o sorriso, mas gosta. Ela sempre morde acaba mordiscando o lábio inferior quando escreve, ela sempre coloca as folhas a sua esquerda e se curva sobre elas, ela sempre passa a mão sobre as folhas após escrever um pouco, como se dissesse “é isso mesmo que devo estar escrevendo?” Nunca espera a resposta e segue manchando de caneta novas linhas. E ele sempre se lembra que seus envelopes sempre diziam todo o conteúdo das cartas. A mensagem já poderia ser avaliada pelo envelope, pelas cores do envelope e pelas cores da caneta que escreveram o envelope. Engraçado também era notar o quanto da carta estava riscada. Já dizia tudo. Ela gosta de cartas. E ele acha isso bonito.

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