4 de out. de 2011

De um fim procrastinado

Impecavelmente atravessa o corredor com seu rebolado adentrado em seu vestido decotado que não era costume usar. Sorridente como nunca, lhe dava as boas-vindas e colocava-se atrás da porta como convite para que ele adentrasse o corredor que antecipavam as escadas de seu apartamento no quarto andar. Ato habitual, ele aproxima-se para desferir nela o primeiro beijo de encontro, seu cheiro de banho é percebido de longe, entretanto lhe é disparado um tiro sorrateiro no momento em que ela lhe oferece a face para ser beijada escondendo-lhe a boca que ele julgava ser sua. Ele olhou para si e vislumbrou seu desleixo para ir encontrá-la. Sabia bem da crise, enumerava mentalmente milhares de milhares de razões e motivos. Despedidas são feitas com terno negro e com nó de gravata intacto. A elegância antecipa o tato com as palavras. Era conhecido por ambos o motivo do encontro: filtrar o turvo da água que pouco ainda compartilhavam.
Como se retirasse uma lente de aumento dos olhos, ele viu o corredor alongar-se infinitamente até chegar as escadas. Sentiu-se tonto com a atitude de sua anfitriã e lhe saltaram exatamente essas palavras à mente "não consigo mais ter-te e qualquer aproximação a partir de agora será apenas para destruição mútua". O velho hábito de romper laços enquanto eles ainda não existem. Era tarde. O laço já ultrapassava o status que seu nome carregava e transformara-se em emaranhado.
Ao chegarem ao apartamento dela, ela foi servir-lhe uma taça de vinho. Mulheres carregam algo em seu inconsciente que diz respeito na forma em que se posicionam em situações de risco, a sua cintura parecia chamar aos braços dele que não tardaram a se enrolarem. Do pouco dito até então, restaram apenas sussuros enquanto apertavam-se contra a mesa. Do objetivo de ambos nada ficara, entretanto a questão era colocada na mente dele perante o coito.
Do amor nada restava para ambos. Após o regozijo se cumprir, pouco queriam fitar-se um ao outro estendidos desnudos sobre a cama. A ofensa de desferir palavras certeiras em que rompesse todos os fios que os prendiam era pensamento deles, entretanto acovardavam-se perante suas sinceridades prometidas e pouco cumpridas.

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