Há muito tempo atrás, eu tive uma menina. Naquela época ainda achava
que a gente deveria ter as pessoas que amava. No final dos anos de
rebelde, como se hoje já tivesse deixado a adolescência pra trás. Sempre fui
muito burro e só podia sentir algo por quem não me tinha apreço. De
tanta insistência ela passou a me gostar, foi o começo do fim. Foram
tempos de deitar na grama, muito vinhos baratos e discos repetidos do
Belchior até eu conseguir, pouco a pouco, afastá-la. Perto do fim,
roubamos uma planta juntos. Duas crianças não podiam compartilhar uma
casa, compartilhavam uma planta. Ela me deixou, eu fiquei com a planta
e, coincidentemente, dei-me conta que o amor que guardava tinha se
esvaecido no mesmo dia em que a planta já não ficaria mais
erguida.
Seguindo no mesmo erro, já alertado por minha mãe, amei
essa outra menina. Ela era geniosa e muito delicada. Criou-se uma
relação de posse lentamente, embora já não fosse mais necessário e,
tampouco, pretendido. Eu já havia sofrido um bocado e sabia o quão
difícil era estar do lado de alguém. Foram tempos de poesia e canções ao
violão; filmes repetidos e noite sem dormir. Fui embora, deixei meu
coração. Ela, tardiamente, apareceu por aqui e meu quarto se encheu de
pássaros azuis. Pouco a pouco eles foram caindo da parede com a partida.
Ainda restam dois.
Nunca acreditei em destino. Hoje torço todos os dias que acordo para que os dois desabem e eu siga adiante.
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